Estudo sobre mutilações do bico de albatrozes e petréis é destaque no VI Sabmar
Dados de aves Procellariformes recolhidos junto a serviços de monitoramento de praias e também do Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, serviram como subsídio para a pesquisa ‘Mutilações em bicos de albatrozes e petréis no Sul e Sudeste do Brasil’, premiada durante o VI Simpósio Acadêmico de Biologia Marinha (Sabmar), realizado entre 18 e 23 agosto.
O trabalho, desenvolvido pelo doutorando em Oceanografia Biológica da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Fernando Faria, e o mestrando em Oceanografia Biológica da mesma instituição, Nicholas Daudt, teve como coautores Gabriel Canani Sampaio e Augusto Silva Costa, consultores técnicos das bases do Projeto Albatroz em Rio Grande e Itajaí, respectivamente, além do PhD Dimas Gianuca, coordenador científico da instituição.
De acordo com o trabalho, a principal causa do declínio populacional de albatrozes e petréis é a mortalidade incidental por conta da interação com a pesca, principalmente nas pescarias de espinhel pelágico. Ao tentarem comer as iscas dos anzóis durante a largada, as aves são fisgadas, arrastadas para o fundo e morrem afogadas: “Neste caso, a sobrevivência das aves depende do manuseio e remoção cuidadosa do anzol. Apesar do dano da captura durante a largada do espinhel ser conhecido, pouco se sabe sobre a extensão do impacto resultante do manejo inadequado das aves capturadas vivas”, explicam os autores no resumo.
Os 17 indivíduos registrados no litoral das regiões Sul e Sudeste entre 1999 e 2017, por observadores a bordo de embarcações e programas de monitoramento de praia, pertenciam às espécies de albatrozes-de-sobrancelha-negra (Thalassarche melanophris), petréis-gigantes (Macronectes giganteus), albatrozes-errantes (Diomedea epomophora) e albatrozes-reais-setentrionais (Diomedea sanfordi). Com exceção do sobrancelha negra, as demais estão globalmente ameaçadas de extinção.
Deste total de aves mutiladas na interação com a pesca, 47% foi encontrada viva em alto-mar, 41% já havia morrido no momento do registro e os outros 12% morreram pouco tempo após a mutilação. No trabalho, os indivíduos mais afetados eram albatrozes-de-sobrancelha-negra, a espécie mais abundante na costa brasileira (76%).
Os dados fornecidos pelo Projeto Albatroz foram recolhidos com apoio da Petrobras e da BirdLife International, por meio do Programa Albatroz Task Force, que financia os embarques técnicos do Projeto junto de barcos de espinhel pelágico no litoral Sul.
Boas práticas na pesca de espinhel
A causa mais provável destas lesões é o corte do bico das aves para retirada do anzol. Este tipo de mutilação prejudica a capacidade de alimentação, de reprodução, e a habilidade competitiva dos indivíduos, podendo levá-los à morte por desnutrição ou pela severidade das lesões.
“Não se sabe se as aves encontradas mortas na praia morreram devido às lesões ou se tiveram seus bicos cortados após morrerem durante a largada do espinhel pelágico. Entretanto, as duas aves encontradas vivas na praia e que morreram posteriormente evidenciam a gravidade das lesões”, explica o trabalho. “O impacto dessas mutilações soma-se ao impacto causado pela mortalidade incidental. Maior atenção é necessária para quantificar esse impacto e para disseminar boas práticas no cuidado de aves capturadas vivas”.
Para Gabriel Canani Sampaio que, além de integrar a equipe do Projeto Albatroz também faz parte da organização do Sabmar, as conclusões do trabalho reforçam a importância da adoção de boas práticas na pesca de espinhel, tarefa que é parte importante do escopo de trabalho da instituição.
“É preciso ter boas práticas à bordo dos barcos para que não haja um aumento dos impactos da pesca nas populações de albatrozes e petréis. Isso engloba desde como manipular a ave a bordo e desvencilhá-la corretamente dos petrechos, mas principalmente seguir a legislação que determina o uso das medidas mitigadoras”, afirma. “As medidas previstas por lei são a largada noturna, regime de peso (distância entre o peso e o anzol) e toriline. Quando usadas concomitantemente, praticamente eliminam a possibilidade de captura acidental”, explica.
VI Sabmar
O Simpósio Acadêmico de Biologia Marinha (Sabmar) nasceu em 2008 por iniciativa do Diretório Acadêmico do curso de Biologia Marinha da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) e Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS). Realizado a cada dois anos, o evento chegou, em 2018, a sua sexta edição.
O objetivo é fomentar a divulgação e o debate sobre os saberes marinhos através de palestras, mesas redondas, minicursos e apresentações de trabalhos científicos - orais e painéis - que integram a programação do evento.
Neste ano, o evento contou com 14 palestrantes e cerca de 160 participantes. Em um dos minicursos, a responsável técnica pela base do Projeto Albatroz em Florianópolis (SC), Alice Ribeiro, ministrou uma oficina sobre ‘Taxidermia de aves para coleções científicas’, ao lado do biólogo Nicholas Daudt, colaborador do Setor de Ornitologia, da MUCIN/UFRGS).
Mais informações: http://www.sabmar.com.br/
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